terça-feira, 21 de agosto de 2012

Máquinas que varrem, passam e conversam viram realidade


CRIADOR E criatura. Hawes e um robô: suas máquinas não limpam a casa, mas conversam e traçam mapas
Foto: Divulgação

Em 2010, 2,2 milhões de robôs domésticos foram vendidos no mundo — 35% a mais do que no ano anterior —, levando este mercado a movimentar o equivalente a R$ 1,08 bilhão (em valores daquele ano). As máquinas são desenvolvidas para atividades específicas, como aspirar pó, cortar o gramado ou para passatempo de crianças. No Reino Unido, os mais baratos custam por volta de R$ 880, embora este valor possa atingir cifras até três vezes maiores.
Quem conseguir tornar os robôs menores, mais rápidos e baratos vai popularizar o produto, assegura o americano Jeff Burnstein, um dos representantes das Américas na Diretoria Executiva da Federação Internacional de Robótica.
— Boa parte desses robôs domésticos ainda é vendida para a elite dos países desenvolvidos, o que mostra como é possível expandir este mercado — destaca. — As pessoas querem ficar sentadas enquanto algo ou alguém pega as coisas e realiza as tarefas para elas. Por enquanto, os robôs estão no estágio inicial, limitando-se a uma determinada tarefa. Sei que algumas empresas na Europa tentam aumentar este volume de conhecimento.
Além das companhias, as universidades também investem em inteligência artificial e robótica. Entre estas instituições, a Birmingham, no Reino Unido, tornou-se uma referência. Seus pesquisadores trabalham simultaneamente em dois robôs, que, embora usem o mesmo hardware, foram construídos com propósitos completamente diversos: Dora e George.
Nenhum dos dois foi criado para desempenhar atividades domésticas — ao menos não em um primeiro momento. Dora é capaz de reconhecer um local com a mesma competência de um ser humano. George, por sua vez, interage conosco. Sabe exatamente o que perguntar quando é apresentado a um objeto desconhecido, algo inédito entre os seus pares.
Dora é a destemida. A ponto de ser conhecida como Dora, a Exploradora. Ela constrói mapas usando uma técnica chamada localização e mapeamento simultâneo (Slam, em inglês). Estas cartas geográficas incluem detalhes como paredes e objetos, sendo representações muito precisas de como um ambiente é reconhecido pelo ser humano.
— Estes mapas condensam diversas medidas muito detalhadas — ressalta Nick Hawes, professor de Ciências da Computação em Birmingham e pesquisador do Laboratório de Inteligência Robótica. — Usamos um scanner para medição de distância e sensores que resumem as informações detectadas.
A Exploradora, assim, é treinada para reconhecer objetos do dia a dia, como canecas, livros ou comida. A partir do momento em que eles entram em seu sistema de memória, ela pode encontrá-los sempre que for acionada. Desde, claro, que não haja alguma “pegadinha”: Dora não vai procurar um livro na cozinha, nem uma pizza na estante. Tudo deve seguir a lógica que ela aprendeu.
O sistema de mapeamento de Dora privilegia áreas próximas — quanto mais distantes, menos vale a pena explorá-las, porque demandaria mais tempo para realizar uma tarefa. Então, um risco para a robô seria, no meio de uma tarefa, encontrar outra mais fácil.
Se alguém a mandasse trazer um café, e no caminho ela encontrasse aberta uma porta que está sempre fechada, Dora poderia esquecer a sua missão inicial. Afinal, ela está mais perto da porta. Há dois anos este conflito do sistema quebra a cabeça dos pesquisadores da Universidade de Birmingham.
George, o robô que gosta de bater papo
George, por sua vez, não põe a mão na massa. É um robô cerebral, mais interessado em conversar para completar os seus próprios conhecimentos. Seu sistema foi desenvolvido para armazenar informações básicas, como “a caixa é vermelha”, “esta é uma latinha de refrigerante”. Como quase nunca saber o que é um objeto leva a conhecer a sua cor — e vice-versa —, George tenta suprir essas lacunas conversando com um ser humano.
E este é seu diferencial em relação aos outros robôs: ele consegue identificar que perguntas fazer. Por exemplo, “você pode me dizer qual é cor daquela latinha de refrigerante?”.
— Também é um sistema complexo, porque George, primeiro, precisa identificar que gama de cores é mais associada à palavra “vermelho” — explica Hawes. — E, depois, comprime estes valores em medidas ainda mais detalhadas. Digamos, amostras de cada pixel de uma imagem.
Teoricamente, os sistemas de George e Dora podem ser acoplados em um mesmo robô, já que ambos usam a maior parte do mesmo software. Esta manipulação, porém, poderia ser perigosa — tanto para os robôs quanto para as pessoas ao seu redor:
— Se os braços do robô ficarem em posições estranhas, saindo da segurança da plataforma principal, então ele pode quebrar o braço nele mesmo ou em alguém — alerta o pesquisador. — Há menos risco quando o robô não tem braços, porque as bases móveis não se projetarão.


Um comentário:

  1. a tecnologia é maravilhosa, mas nunca devemos trocar o calor humano pelo frio das máquinas

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